Um Canto Para Esquecer
_ Ei, é você quem está aí? Posso sentir sua respiração mesmo daqui. Sim é você, sei que não me deixaria aqui só.
[sorriso incrédulo]
_ Sabe que não suportaria?
_Vem dançar comigo? Olha como estou girando, girando… VEM? Vamos nos perder juntos.
_ Ei, não faça isso. Sabe que quase enlouqueço quando insiste em fingir que não me vê. Dá última vez achei que até minha alma havia fugido do meu corpo.
[risos]
_ Não aguento mais rodar.
[muitos risos]
_Cantaremos então, como pássaros fazendo avoada no final da tarde.
[bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi]
_ Meu destino mais certo, sabe que tenho medo de ti quando está assim escondida. Quando fica em perfeito silêncio. Sei que sempre que fica assim, a nossa distância se torna cada vez mais real, mesmo quando volta para mim.
Estes momentos sempre levam parte de mim, mas deixam o seu molde para trás. Como um fantasma que faz questão de me recordar sobre algo que já teve vida e cor um dia, porém que jamais poderei viver ou ter só mais uma vez que seja.
_ Oi, estou falando contigo! Quer brincar de ser indiferente a mim? É isso? Pois não aceitarei.
[tudo é vermelho]
Irei gritar sobre ti aos quatro ventos.
Dançarei como uma velha cigana entre cristãos enfurecidos.
Me lançarei de elevados montes e darei risadas soltas.
Então, abrirei os seus melhores perfumes, seus melhores vinhos e os despejarei dentro de uma bacia com os meus piores vinagres.
Pintarei linhas espessas e brancas em suas obras favoritas.
_ Oi, fala comigo? Por favor.
[em oração]
_ Eu sei, errei mais uma vez. É que não sei dançar na sua ausência. É esse amor. Ele que me aleija os pés e me cega o desejo mais sensato. Grita aos meus ouvidos palavras sem sentido até eu mesma perder o Meu Sentido.
[tudo é silêncio]
_ Volta?
_ Fica aqui? Não me deixe só com o mundo. Não sei ser uma boa companhia mim mesma quando me falta o seu Norte.
Texto Cristina Abrantes | Photo by Sole D’Alessandro G. on Unsplash